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Obesidade Infantil
A Obesidade infantil vem se mantendo nesses últimos anos, o problema mais preocupante na atenção de saúde à criança.

As Projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS) são preocupantes, e caso não ocorra nenhuma intervenção, os números vem apontando que até 2025 podemos chegar a 75 milhões de crianças com excesso de peso, quadro que pode se iniciar já entre quatro a cinco anos de idade. Em nossa cidade, Natal/RN, essa problemática também esta presente. Em um trabalho realizado por essa autora conjuntamente com a Dra Ana Cristina Granjeiro, sob a coordenação do professor da UFRN, Dr. Hélcio Maranhão, foi avaliado crianças pré-escolares e escolares de todas as regiões da cidade. A prevalência encontrada em excesso de peso foi de 26% e 33% respectivamente. Falar em números parece monótono e pouco atrativo, no entanto, se fizermos uma pausa para avaliarmos esses dados, podemos perceber com clareza, a importância de conhecermos e trabalharmos esse problema.
Por essa razão, esse tema é bem debatido, tanto no meio cientifico, através de trabalhos e pesquisas, como também na sociedade em geral. Essa preocupação é resultante do aumento do numero de crianças obesas nas clínicas e ambulatórios pediátricos, independente da classe econômica às quais pertence. Esta observação tem relação com a mudança do perfil nutricional que vem ocorrendo, em particular no nosso país, onde a prevalência da desnutrição tem diminuído enquanto ocorre o aumento da prevalência da obesidade, segundo demonstram dados das Pesquisas de Orçamento Familiar (POF).
Como definição dizemos que a obesidade é uma doença, que se caracteriza por alteração na regulação energética do organismo onde, o acumulo dessa energia é maior que seu gasto. Mais claramente, esse acúmulo é na forma de gordura. A pergunta é: quais as causas para esse aumento na população atual, em especial na faixa pediátrica?
A comunidade acadêmica, após vários estudos realizados em crianças e adolescentes, tem como consenso que o surgimento ou manutenção de sobrepeso e obesidade, decorre de causas multifatoriais como, por exemplo, as causas genéticas, neuropsicológicas, endócrinas, e metabólicas. No entanto parece ser a de origem comportamental, dietética e/ou ambiental a responsável pelo maior número dos casos, sobre a qual vamos nos deter. A maioria parece estar intimamente relacionada entre si, dificultando por vezes, apontar uma única causa para o aparecimento em alguns indivíduos.
Sabe-se que temos uma herança genética dos nossos antepassados de milhões de anos atrás. Daqueles, sobreviveram, predominantemente os que possuíam genes poupadores de energia.
Isso porque naquele período, ocorria difícil acesso a alimentos e havia extremas variações de temperatura ambiental. Sendo assim, esses, apresentavam mais condições de enfrentar as adversidades daquela época devido a sua camada protetora de gordura. No entanto os que, possuíam genes pobres em poupar gordura, nos deixaram poucos descendentes. Por consequência, na época atual, temos geneticamente maior numero de herdeiros que possuem facilidade para armazenar calorias, e que ao encontrarem ambiente adequado para sua expressão, provocam indivíduos obesos.
A influência ambiental é resultado do modo de vida atual, denominada “Moderna”. Vivemos em um meio onde temos uma rotina urbana com elevado nível de stress, consequente a horários predeterminados, com mobilidade urbana complexa e cansativa que exige o uso de transportes em veículos mais rápidos. Temos dificuldade em estimular praticas físicas ao ar livre, não há praças publicas adequada para se jogar bola, andar de bicicleta, correr e praticar atividades lúdicas próprias da infância, pois a violência urbana impede essa liberdade. Disso resultam, crianças presas em moradias sem espaço, com vivência prolongada em creches e escolas, e muitas horas envolvidas em atividades de tela como computador, Tablet, TVs e outros eletrônicos com seus controles remotos.
Acrescido a esse quadro, temos também o aumento no poder de compra de alimentos em nossa população, a influência forte da mídia com apelo ao consumo de produtos industrializados ricos em gordura e açúcar. Os pais, na maioria das famílias trabalham e, portanto a alimentação da família exige que tenha preparo mais rápido e prático como, congelados, conservas e pré-confeccionados. Ainda lembrando as ocasiões onde alimentação é feita em fast-food e restaurantes. Esses alimentos apresentam, algumas vezes, alta concentração de sal e gordura, contribuindo na retenção de caloria corporal. Assim nesse ambiente, cheio de comodidades e conveniências, limitador de atividades que promovam gasto calórico, percebe-se que uma criança que possua antecedentes de obesidade expresse facilmente a sua genética.
As complicações da obesidade na criança são: alterações psicológicas pela dificuldade na aceitação social, em especial no ambiente escolar; as dificuldades ortopédicas com limitações em sua mobilidade, o inicio mais cedo da puberdade nas meninas, o prejuízo na sua estatura final, além do surgimento nessa fase, de doenças próprias do adulto como hipertensão, diabetes e alterações hepáticas entre outras. Há comprovação através de pesquisas que as crianças em distintas fases da vida a citar: o primeiro ano, aos quatro e a puberdade, apresentando obesidade, tendem a manter o mesmo quadro na fase adulta.
A forma de abordagem, dentro dos gabinetes médicos, busca afastar causas ditas orgânicas para o quadro da obesidade a fim de aplicar tratamento medicamentoso quando necessário. Procura-se Identificar os fatores de risco para surgimento da obesidade nessa faixa etária, quais sejam: as crianças que não amamentaram ao leite materno, os filhos de mães diabéticas, os filhos de mães que ganharam muito ou pouco peso na gravidez, filhos de familiares obesos
e com complicações cardíacas, as crianças sedentárias, e os que usam medicações para doenças crônicas. Identificado esse publico de risco procura-se programar terapêutica adequada iniciando o tratamento ambiental e dietético visando a prevenção futura das complicações.
Tenta-se corrigir os hábitos inadequados, instituídos na família. Mostrar a pais e cuidadores, a necessidade de ajuda que a criança apresenta, inerente a própria idade, pois que ela, sozinha não tem autonomia para compra e preparo dos alimentos. Estimula-se mudança de hábitos sedentários, limitando a um período diário de duas horas apenas procurando estimular atividade física envolvendo, inclusive a escola já que é nesse espaço que a criança despensa grande hora de seu dia.
O tempo para aplicação das mudanças e adequações para uma vida mais saudável é amplo, com bons resultados em longo prazo. Há como vantagem a ser dita e lembrada aos pais é que como seus filhos estão em crescimento continuo, não necessariamente há necessidade da perda de peso imediato, pois, à medida que elas crescem, caso não ocorra mais ganho de peso, vai havendo alongamento físico com consequente adequação no peso corpóreo.
O resultado dessa abordagem medica tem como objetivo, pôr em prática, medidas que intervenham no combate a este distúrbio nutricional nas crianças, prevenindo o desenvolvimento de doenças em sua fase adulta, incluindo a própria obesidade.