A obstrução da aorta abdominal e dos seus principais ramos pode ser súbita ou gradual. Uma obstrução súbita e completa, geralmente, ocorre quando um coágulo transportado pela corrente sanguínea se incrusta numa artéria (embolia), quando se forma um coágulo (trombose) numa artéria estreitada ou quando se rompe a parede arterial (dissecção aórtica). Uma obstrução que se desenvolve gradualmente costuma ser o resultado da aterosclerose; com menor frequência, é consequência de um crescimento anômalo de músculo na parede arterial ou da pressão a partir de fora feita por uma massa que esteja a crescer como um tumor.
Sintomas
Uma obstrução súbita e completa da artéria mesentérica superior, o ramo principal da aorta abdominal que alimenta grande parte do intestino, é uma urgência médica. Uma pessoa com esta obstrução fica gravemente doente, com dores abdominais intensas. No início, aparecem habitualmente vômitos e evacuações diarreicas com carácter imperioso. Embora o abdômen possa ser sensível à pressão quando o médico o examina, habitualmente a dor abdominal intensa é pior que a sensibilidade à pressão, a qual é generalizada e vaga. O abdômen pode estar levemente distendido. Inicialmente, com o fonendoscópio, auscultam-se menos sons intestinais do que o normal. Mais tarde, não se escuta nenhum. Pode aparecer sangue nas fezes, embora no início possa acontecer que só se detecte com análises laboratoriais, mas em seguida as fezes aparecem ensanguentadas. Por último, diminui a pressão arterial e a pessoa sofre um choque ao mesmo tempo que o intestino gangrena.
O estreitamento gradual da artéria mesentérica superior causa, tipicamente, dor depois de comer, ao cabo de 30 a 60 minutos, porque a digestão requer um aumento do fluxo de sangue ao intestino.
A dor é constante, forte e, geralmente, centra-se no umbigo. A dor faz com que os doentes tenham medo de comer, podendo, por isso, perder peso consideravelmente. Devido ao reduzido fornecimento de sangue, existe uma má absorção de nutrientes e, portanto, agrava-se ainda mais a perda de peso.
Quando um coágulo se fixa numa das artérias renais, os vasos que alimentam os rins, regista-se uma dor súbita nas costas e a urina torna-se ensanguentada. A obstrução gradual das artérias de um ou de ambos os rins é o resultado da aterosclerose e pode provocar hipertensão (hipertensão renovascular), que constitui 5 % de todos os casos de pressão arterial elevada.
Quando a aorta inferior se obstrui no ponto onde se divide em dois ramos (artérias ilíacas) que passam pela bacia para levar o sangue às pernas, subitamente aparece dor nestas, que se tornam doridas, pálidas e frias. Não se sente o pulso nas pernas, as quais se podem tornar insensíveis.
Quando o estreitamento gradual ocorre na aorta inferior ou numa das artérias ilíacas, a pessoa sente cansaço muscular ou dor nas nádegas, nas ancas e nas barrigas das pernas ao caminhar. Nos homens é frequente a impotência quando existe um estreitamento da aorta inferior ou de ambas as artérias ilíacas. Se se verificar na artéria que começa na virilha e desce pela perna até ao joelho (artéria femoral), aparece uma dor típica nas barrigas das pernas ao andar, assim como debilidade ou falta de pulso abaixo da obstrução.
Tratamento
A sobrevivência depois de uma obstrução repentina da artéria mesentérica superior e a salvação do intestino dependem da rapidez com que se restabeleça o fornecimento de sangue. Para ganhar um tempo precioso, pode praticar-se uma intervenção cirúrgica urgente inclusive sem radiografias prévias. Se a artéria mesentérica superior estiver obstruída, só a cirurgia imediata pode restabelecer o fornecimento de sangue com rapidez bastante para salvar a vida do doente.
Numa obstrução gradual da corrente sanguínea para o intestino, a nitroglicerina pode aliviar a dor abdominal, mas só uma intervenção cirúrgica é capaz de eliminar a obstrução. Para determinar a extensão da obstrução e o ponto exato da mesma, a fim de planificar a intervenção cirúrgica, os médicos baseiam-se na ecografia Doppler (que utiliza utra-sons) e na angiografia.
Os coágulos sanguíneos nas artérias hepática e esplênica, que alimentam o fígado e o baço, não são tão perigosos como as obstruções da alimentação sanguínea ao intestino. Mesmo quando uma obstrução causa uma lesão a alguma parte do fígado ou do baço, só em raras ocasiões é necessária a cirurgia para corrigir o problema.
A extirpação rápida de um coágulo de uma artéria renal pode restabelecer a função renal. No caso de uma obstrução gradual de uma artéria renal, há ocasiões em que pode utilizar-se a angioplastia (um procedimento no qual se introduz um pequeno balão na artéria que depois se enche para eliminar a obstrução), mas geralmente a obstrução tem de ser extirpada através de uma intervenção cirúrgica ou então há que fazer-se uma cirurgia de derivação (bypass).
Uma intervenção cirúrgica urgente pode eliminar uma obstrução repentina da aorta inferior no ponto onde ela se divide nos dois ramos que levam o sangue às pernas. Às vezes, os médicos podem dissolver o coágulo injetando um fármaco trombolítico, como a uroquinase, mas a cirurgia costuma ser mais eficaz.