A estrutura da cara e dos olhos tem a finalidade de proteger os olhos de qualquer lesão. O globo ocular encontra-se numa órbita rodeada de um bordo ósseo forte. As pálpebras podem-se fechar rapidamente para formar uma barreira contra os corpos estranhos e o olho pode tolerar o impacte da luz sem ser danificado. (Ver secção 20, capítulo 216) Apesar disso, o olho e as estruturas que o rodeiam podem ser danificados por uma ferida, por vezes tão gravemente que se perde a visão e, em situações excepcionais, o olho deve ser extrirpado. A maioria das lesões oculares são de menor importância, mas, devido ao grande hematoma que provocam, com frequência parecem piores do que são. Uma lesão no olho deverá ser examinada por um médico para determinar se é necessário um tratamento e se a visão pode ser afectada permanentemente.
Feridas por Impacto
Um impacte brusco obriga a que o olho recue na sua cavidade, sendo provavelmente danificadas as estruturas superficiais (a pálpebra, a conjuntiva, a esclerótica, a córnea e o cristalino) e as da parte posterior do olho (a retina e os nervos). Um impacte desta magnitude pode até partir os ossos que rodeiam o olho.
Sintomas
Nas primeiras 24 horas posteriores a uma ferida ocular, o sangue que se derrama sob a pele que rodeia o olho forma geralmente um hematoma (contusão), comummente chamado olho negro. Se um vaso sanguíneo da superfície do olho rebentar, a referida superfície tornar-se-á vermelha. Esta hemorragia costuma ser de menor importância.
As lesões na parte interna do olho são geralmente mais graves do que o dano da sua superfície. A hemorragia na câmara frontal do olho (hemorragia da câmara anterior, hifema traumático) é potencialmente grave e exige a atenção de um médico dos olhos (oftalmologista).
A hemorragia recorrente e a maior pressão dentro do olho podem conduzir a uma mancha de sangue na córnea, que pode reduzir a visão tanto como uma catarata e aumentar o risco de glaucoma para o resto da vida.
O sangue pode cair na parte interna do olho, a íris (a parte colorida do olho) pode soltar-se ou o cristalino pode ficar deslocado. A hemorragia pode ter lugar na retina, que pode soltar-se da superfície onde está presa, na parte posterior do olho.
Inicialmente, o descolamento da retina pode criar imagens de formas irregulares flutuando ou clarões luminosos e pode provocar uma visão confusa. Mais tarde a visão piora muito. (Ver secção 20, capítulo 225) Nas lesões graves, o globo ocular pode rebentar.
Tratamento
O gelo ajuda a reduzir o inchaço e a aliviar a dor do olho negro. Durante o segundo dia, as compressas mornas podem ajudar o organismo a absorver o excesso de sangue que se acumulou. Se a pele que rodeia o olho ou a da pálpebra se tiver cortado (lacerado), é possível que seja necessário levar pontos. Sempre que possível, os pontos próximos da extremidade das pálpebras deverão ser feitos por um cirurgião ocular para assegurar que não são provocadas deformações que afectem o modo de fechar as pálpebras. Uma lesão que afecte os canais lacrimais deverá ser reparada por um cirurgião ocular.
No caso de uma laceração do olho, podem ser administrados sedativos, além de outros medicamentos que mantenham a pupila dilatada para evitar uma infecção. Em geral, usa-se uma protecção de metal para proteger o olho de uma lesão posterior. Uma lesão grave pode degenerar na perda parcial da visão, inclusivamente depois de um tratamento cirúrgico.
Qualquer paciente com uma hemorragia interna no olho provocada por um traumatismo deverá repousar acamado.
Provavelmente será também necessário administrar uma medicação que reduza o aumento da pressão ocular, como a acetazolamida. Por vezes, é administrada uma medicação adicional, o ácido aminocapróico, com o fim de reduzir a hemorragia. Deve ser evitada qualquer medicação que contenha aspirina, porque esta pode aumentar a hemorragia interna do olho. As pessoas que tomem warfarina ou heparina para evitar que o seu sangue coagule, ou aspirina por qualquer outro motivo, deverão comunicá-lo de imediato ao médico. Em situações excepcionais, a hemorragia recorrente requer uma drenagem cirúrgica, que deve ser feita por um oftalmologista.
Corpos Estranhos
As lesões oculares mais comuns são as da esclerótica, da córnea e do revestimento das pálpebras (a conjuntiva), provocadas por corpos estranhos. Apesar de a maior parte destas lesões terem pouca importância, algumas (como a perfuração da córnea ou o desenvolvimento de uma infecção a partir de um corte ou de uma arranhadela na córnea) podem ser graves.
A causa mais comum das lesões superficiais talvez sejam as lentes de contacto. As lentes mal colocadas, utilizadas durante demasiado tempo nos olhos, a sua utilização durante o sono, uma esterilização inadequada, o facto de as retirar à força ou de forma incorrecta, podem arranhar a superfície do olho. Outras causas de lesões superficiais são as partículas de vidro, aquelas que são levadas pelo vento, pelos ramos das árvores e pelos escombros quando caem. Em certas profissões, os trabalhadores costumam estar rodeados de pequenas partículas que pairam no ar à sua volta; estas pessoas deverão utilizar óculos protectores.
Sintomas
Um golpe na superfície ocular geralmente provoca dor e a sensação de que há algo dentro do olho. Também pode provocar sensibilidade à luz, vermelhidão, hemorragia dos vasos do olho ou edema do olho e da pálpebra. A visão pode tornar-se confusa.
Tratamento
Os corpos estranhos dentro do olho devem ser retirados. Umas gotas especiais que contêm uma tinta fluorescente tornam o objecto mais visível e revelam qualquer abrasão superficial. Podem ser aplicadas gotas anestésicas para adormecer a superfície do olho. Posteriormente, utilizando um instrumento de iluminação especial para visualizar a superfície em pormenor, o médico extrai o corpo estranho. Em geral, o referido corpo estranho pode ser retirado com uma gaze de algodão esterilizada e humedecida. Por vezes, é possível fazê-lo sair com água esterilizada.
Se o corpo estranho tiver provocado um pequeno abrasão superficial na córnea, uma pomada com antibiótico aplicada durante vários dias pode ser todo o tratamento necessário. As abrasões mais graves da córnea requerem um tratamento adicional. Há que manter a pupila dilatada por meio de certos medicamentos, instilar-se o antibiótico e depois colocar-se um parche sobre o olho para o manter fechado. Felizmente, as células superficiais do olho regeneram-se com rapidez. Por baixo de um parche, até as abrasões graves costumam curar-se entre 1 e 3 dias. Se o corpo estranho tiver atravessado as camadas mais profundas do olho, dever-se-á de imediato consultar um oftalmologista para fazer um tratamento de emergência.
Queimaduras
A exposição a altas temperaturas ou a produtos químicos poderosos faz com que as pálpebras se fechem com rapidez num acto reflexo para proteger os olhos das queimaduras. Por conseguinte, só as pálpebras ficam queimadas, embora um calor extremo também possa queimar o olho. A gravidade da lesão, o grau de dor e o aspecto das pálpebras dependem da profundidade da queimadura.
As queimaduras químicas podem ocorrer quando uma substância irritante entra no olho. Até as substâncias ligeiramente irritantes podem provocar uma dor intensa e dano no olho. Como a dor é tão grande, há tendência para manter as pálpebras fechadas, pelo que a substância fica em contacto com o olho durante um tempo prolongado.
Tratamento
Para tratar as queimaduras sobre as pálpebras, o especialista lava a área com uma solução esterilizada e a seguir aplica uma pomada com antibiótico ou uma faixa de gaze saturada de vaselina. A área tratada é coberta com vendas esterilizadas, seguras com pensos plásticos, para permitir que a queimadura sare.
A queimadura química ocular é tratada lavando imediatamente o olho aberto com água. Este tratamento deve ser posto em prática até antes de chegar o pessoal médico especializado. Embora a pessoa possa ter dificuldade em manter o olho ferido aberto durante este tempo pela dor causada pela lavagem, é fundamental eliminar o produto químico o mais rapidamente possível. O médico pode começar o tratamento instilando gotas de anestesia e um medicamento para manter a pupila dilatada. Os antibióticos usam-se normalmente em forma de pomada. Também pode ser necessário recorrer aos analgésicos orais. As queimaduras graves podem requerer tratamento por um oftalmologista para preservar a visão e evitar complicações maiores, como uma lesão na íris, a perfuração do olho e a deformação das pálpebras. No entanto, até com o melhor tratamento, as queimaduras graves da córnea podem levar à formação de uma crosta, à perfuração do olho e à cegueira