Os cânceres e os seus tumores satélites (metástases) podem invadir e, desse modo, alterar a função de um órgão ou exercer pressão nos tecidos que os rodeiam; ambos podem provocar uma ampla variedade de sintomas e de problemas médicos. Nas pessoas com câncer metastásico, a dor pode ser causada pelo crescimento do câncer dentro do osso (que não se expande) ou então pela pressão sobre os nervos ou sobre outros tecidos.
Muitos tipos de câncer produzem certas substâncias, como hormonas, citocinas e proteínas, que podem afetar a função de outros tecidos e órgãos, originando muitos sintomas denominados síndromas paraneoplásicas. Por vezes os problemas causados pelo câncer são tão graves que têm de ser tratados de forma urgente.
Síndromes Paraneoplásicas
As síndromes paraneoplásicas são um conjunto de sintomas causados não pelo tumor em si, mas pelos produtos derivados do câncer.
Algumas das substâncias que um tumor pode produzir são hormônios, citocinas e várias proteínas. Estes produtos afetam os órgãos ou tecidos pelos seus efeitos químicos; daí o termo paraneoplásico.
O modo exato como os cânceres afetam sítios distantes não é completamente conhecido. Alguns cânceres libertam umas substâncias no sangue, causando uma reação auto-imune que lesa os tecidos afastados. Outros cânceres segregam substâncias que interferem diretamente na função de diferentes órgãos ou que destroem diretamente os tecidos.
Podem aparecer sintomas como a diminuição do açúcar no sangue, diarreia e aumento da pressão arterial (hipertensão). Muitas vezes as síndromas paraneoplásicas afetam o sistema nervoso.
Embora alguns dos sintomas possam ser tratados diretamente, a terapia de uma síndroma paraneoplásica ordinariamente requer controlo do câncer subjacente.
Urgências Causadas Pelo Câncer
As urgências relacionadas com o câncer compreendem o tamponamento cardíaco, o derrame pleural, a síndroma da veia cava superior, a compressão da espinal medula e a síndroma hipercalcêmica.
O tamponamento cardíaco é a acumulação de líquido numa espécie de bolsa que rodeia o coração (saco pericárdico ou pericárdio), que exerce pressão sobre o mesmo e interfere na sua capacidade para bombear o sangue. O líquido pode acumular-se quando um câncer invade o pericárdio e o irrita. Os cânceres que mais frequentemente invadem o pericárdio são o do pulmão, o da mama e o linfoma.
O tamponamento cardíaco ocorre repentinamente, quando há tanto líquido acumulado que o coração não pode bater normalmente. Antes do início do tamponamento, o doente geralmente sente uma vaga dor ou uma pressão no peito que piora quando se deita e melhora quando se senta. Quando o tamponamento se desencadeia, o doente tem grande dificuldade em respirar e as veias do pescoço dilatam-se durante a inspiração.
Diagnostica-se o tamponamento cardíaco através de radiografias do tórax, electrocardiogramas e ecocardiogramas. Para aliviar a pressão, o médico insere uma agulha no saco pericárdico e extrai o líquido com uma seringa (pericardiocentese). Examina-se uma amostra do líquido ao microscópio para determinar se contém células cancerosas. Posteriormente, realiza-se uma incisão no pericárdio (janela pericárdica) ou tira-se um fragmento do mesmo para evitar que se repita o tamponamento. Os tratamentos adicionais dependem do tipo de câncer.
O derrame pleural (líquido na estrutura em forma de bolsa que rodeia os pulmões, ou saco pleural) pode causar dificuldade respiratória. O líquido pode acumular-se no saco pleural por muitas razões, uma das quais é o câncer. O médico drena o líquido inserindo uma seringa entre as costelas, até ao saco pleural. Se o líquido começar a acumular-se outra vez rapidamente depois deste procedimento, insere-se um tubo de drenagem através das paredes do tórax e deixa-se no saco pleural até que as condições do doente melhorem. Dentro do saco pleural podem-se instilar produtos químicos especiais para produzir uma irritação nas suas paredes e induzir a que adiram. Isto elimina o espaço onde se possa acumular o líquido e reduz a probabilidade de uma recorrência.
A síndrome da veia cava superior ocorre quando o câncer bloqueia de modo parcial ou completo as veias (veia cava superior) que levam o sangue desde a parte superior do corpo até ao coração. Este bloqueio produz a dilatação das veias da parte superior do tórax e pescoço, provocando o edema da cara, do pescoço e da parte superior do peito.
A síndrome de compressão da espinal medula verifica-se quando o câncer comprime esta ou os seus nervos, provocando dor e perda de funcionamento. Quanto mais prolongado é o défice neurológico, menos probabilidades tem o doente de recuperar as funções nervosas normais.
Em geral, o melhor é começar o tratamento entre as 12 e as 24 horas depois do aparecimento dos sintomas. Administram-se corticosteroides, como a prednisona, por via endovenosa (para reduzir a inflamação), e radioterapia. Por vezes, quando não se conhece a causa da compressão da espinal medula, a cirurgia pode ajudar a precisar o diagnóstico e a tratar o problema, permitindo ao cirurgião descomprimir a medula espinhal.
A síndrome hipercalcêmica ocorre quando o câncer produz uma hormona que aumenta a concentração de cálcio no sangue ou invade diretamente os ossos. A pessoa apresenta um estado de confusão que pode evoluir para o coma e causar a morte. Vários medicamentos podem reduzir rapidamente a quantidade de cálcio no sangue.