O autismo é uma perturbação devido à qual as crianças pequenas são incapazes de estabelecer relações sociais normais, comportam-se de maneira compulsiva e ritual e, em geral, não desenvolvem uma inteligência normal.
Os indícios do autismo habitualmente aparecem no primeiro ano de vida, mas sempre antes dos 3 anos. A perturbação é de duas a quatro vezes mais frequente no sexo masculino do que no feminino. O autismo é uma entidade diferente do atraso mental normal ou da lesão cerebral, embora algumas crianças autistas também sofram destas perturbações.
Causas
A causa é desconhecida. Contudo, o autismo não é causado por má paternidade. Os estudos sobre gémeos indicam que a perturbação pode ser em parte genética, porque tende a manifestar-se em ambos se ocorre num. Embora na maioria dos casos não tenha causa óbvia, alguns podem relacionar-se com uma infecção viral (por exemplo, rubéola congénita ou doença de inclusão citomegálica), fenilcetonúria (carência hereditária de enzimas) ou a síndroma de X frágil (perturbação cromossómica).
Sintomas e Diagnóstico
Uma criança autista prefere estar sozinha, não se relacionar intimamente, não abraçar, evita o contacto visual, resiste à mudança, agarra-se excessivamente aos objectos familiares e continuamente repete ou ritualiza certos actos. Geralmente começa a falar mais tarde que outras crianças, utilizando a linguagem de maneira peculiar; outras são incapazes de o fazer ou simplesmente negam-se. Quando se fala, a criança muitas vezes tem dificuldades de compreensão. Pode repetir palavras (ecolalia) e inverte o uso normal dos pronomes, particularmente usando tu e a ti em vez de eu ou a mim ao referir-se a si mesma.
A observação dos sintomas numa criança autista permite ao médico fazer o diagnóstico, embora nenhuma prova seja específica. É possível a realização de certos estudos para detectar outras causas de perturbação cerebral.
As crianças autistas, na maioria dos casos, realizam actos intelectuais irregulares e, por conseguinte, a avaliação da sua inteligência torna-se difícil e há que repetir as provas várias vezes. Estas crianças habitualmente rendem mais em actos específicos (provas de motricidade e habilidades de localização espacial) do que em actos verbais nas provas do coeficiente de inteligência (CI). Estima-se que 70 % das crianças com autismo apresentam também um certo grau de atraso mental (um CI inferior a 70).
Aproximadamente de 20 % a 40 % das crianças autistas, particularmente as que têm um CI inferior a 50, sofrem de ataques antes da adolescência. Algumas crianças autistas têm ventrículos aumentados (áreas deprimidas) no cérebro, que se podem observar numa tomografia axial computadorizada (TAC). Nos adultos com autismo, a imagem de ressonância magnética (RM) pode revelar outras anomalias cerebrais.
Uma variedade do autismo, chamada perturbação generalizada do desenvolvimento infantil ou autismo atípico, pode iniciar-se mais tarde, até aos 12 anos de idade. Como acontece no autismo que começa na infância, a criança com perturbação generalizada do desenvolvimento infantil tem amaneiramentos estranhos e modelos de fala pouco comuns. Estas crianças também podem sofrer da síndroma de Tourette, de perturbação compulsiva obsessiva ou de hiperactividade. Devido a isto, o médico pode encontrar certa dificuldade em diferenciar os sintomas uns dos outros.
Prognóstico e Tratamento
Os sintomas do autismo habitualmente persistem durante toda a vida. Muitos especialistas acreditam que o prognóstico é determinado fundamentalmente pela quantidade de linguagem frequente que a criança adquiriu até aos 7 anos de idade. Os autistas com inteligência inferior à normal (por exemplo, os que atingem um valor inferior a 50 nos testes de CI) provavelmente exigem um cuidado institucional a tempo completo quando atingirem a idade adulta.
As crianças autistas com níveis de CI quase normais ou altos beneficiam muitas vezes com a psicoterapia e a educação especial. A terapia da linguagem inicia-se precocemente, assim como a fisioterapia e a terapia ocupacional. A linguagem por sinais é utilizada em várias ocasiões para comunicar com as crianças mudas, embora se desconheçam as vantagens. A terapia do comportamento pode ajudar as crianças autistas a desembaraçarem-se em casa e na escola. Esta terapia é útil quando uma criança autista esgota a paciência dos pais, inclusive os mais adoráveis, e dos professores mais dedicados.
Os medicamentos em algumas ocasiões são úteis, mas não podem mudar a perturbação subjacente. O haloperidol utiliza-se principalmente para controlar o comportamento agressivo e o comportamento autodestrutivo. A fenfluramina, a buspirona, a risperidona e os inibidores selectivos reabsorventes de serotonina (fluoxetina, paroxetina e setralina) são utilizados para o tratamento dos sintomas e comportamentos das crianças autistas.